quinta-feira, março 31, 2005

Danse Macabre


Então é essa a sensação de estar vivo? Assim se sentem os que cruzam o caminho e encontram paz? Como é estranha a ausência da fome, sentir meu corpo novamente inteiro, a dor finalmente cessa. Ando por entre as pessoas reparando em cada expressão, em cada olhar, perscrutando as mentes; que embora inalcalçaveis me despertam curiosidade. Sinto necessidade de saber como se sentem estes que povoam o mundo. Quero, agora que a maldição se foi, descobrir um propósito e esquecer meu passado.
Sigo a esmo durante todo um dia, maravilhado com os sorrisos infantis e sua espontaneidade tão diferente dos adultos, que me olham com desconfiança e alguns deixam transparecer sentimentos que me lembram meus "velhos tempos".
Não encontrando parada, retorno ao meu antigo lar para repousar em um canto qualquer. O fogo fátuo torna a noite de lua cheia ainda mais linda. As flores, que inalmente me transmitem seu odor me fazem esquecer por um momento que ese é um lugar de morte e não vida. Me perco em pensamentos até ser vencido pelo sono, encostado na lápide onde se encontra inscrito meu nome.
Desperto pela luz do Sol torno a vagar pela cidade, estudando os tipos mais estranhos. Um homem que inventa uma paralisia para se aproveitar da boa vontade alheia, um saxofinista desafinado que ganha seu pão honestamente; um homem com um livro na mão, em pleno anoitecer, dizendo que todos devem se arrepender me chama atenção...
- Devo me arrepender de que?
- De tudo o que você fez de errado! Porque o fim está próximo!
- Mas como vou saber o que é errado?
- Eu vou te dizer o que é errado! A luxúria é errada! As pessoas só pensam em prazer, prazer, prazer! Isso é coisa do demônio! E mais ainda a gula! Todos só querem saber de se empanturrar ao invés de fazer um bom e saudavel jejum. Até a música é coisa que nos condena!!! Você tem de se arrepender e nunca mais ouvir essas coisas!
- Peraí! Música? O senhor por um acaso conhece Mozart? Tem certeza que aquilo é mesmo a perdição??
- MOZART ERA MAÇOM!!! Ele deve estar ardendo hoje por conta do que fez!!
- Na verdade ninguém conseguiu provar isso... Mas o senhor me tocou com seu discurso! Eu vou me arrepender e gostaria que o senhor viesse ao meu lar para que pudesse discursar para alguns amigos meus que também precisam conhecer a verdade!
- Mas é claro que eu irei! É meu dever levar paz aos que precisam. Basta dizer o caminho.
Sigo em silêncio guiando aquela figura odiosa até a entrada de meu lar. Seu susto inicial é seguido de uma pancada na cabeça bem desferida por mim. Tomo as providências e o espero acordar:
- Ó companheiros de dor e sofrimento eu os chamo! Sei que minha condição hoje lhes desperta o mais profundo ódio, mas foi para apaziguar essa situação que trago hoje aqui alguém que lhes servirá de alimento e companhia, pois partilha o mesmo espírito que os trouxe à sua forma atual! Despertem de seu sono para saciar uma vez mais a fome insuportável!!
- O que você está fazendo!! Se você não me tirar daqui você vai morrer! Eu serei salvo por Aquele que é Acima de Mim!
Então a terra estremece e figuras pútridas avançam sobre o pobre profeta amarrado.Pedaços de carne a pender dos ossos, trapos desfiados a cobrir a inominável visão, dentes de ouro a brilhar sob o luar em contraste com a podridão dominante são a última visão do pobre homem. Um sorriso brota e um grito gutural surge do fundo de minh´alma. Finalmente entendi porque fui liberto e o qual o sentido de minha vida. Meus irmãos me olham esboçando sorrisos enquanto o profeta, ainda com sangue a escorrer sobre os restos de sua roupa me diz:
- Tenho foooooooooome! Muita fome!!!

terça-feira, março 08, 2005

Bad place to visit

É estranho retornar a essa casa, esse lugar tão estranho e de formas não convencionais. Nenhuma medida dessa construção é regular, não vejo um ângulo euclidiano e ao que parece, as somas angulares dos triângulos formam sempre pouco mais ou pouco menos que 180 graus. Mas era necessário retornar; era imperativo enfrentar os velhos fantasmas e descobrir o que vem me assombrando e me tirando o sono desde a última vez que visitei esse lugar.
Percorro os corredores que aparentam me engolir e sigo até o quarto. Lufadas de vento de aroma pútrido contaminam meus pulmões e o cheiro de mofo que exala dos lençóis rasgados me desencoraja e a idéia da desistência toma minha mente de assalto. Felizmente reúno forças e em um supiro defino minha decisão:
- É necessário!
Deito-me sobre os lençóis rasgados e a casa manifesta seu descontentamendo com um rangido de madeira velha. A própria cama sa mexe sob mim como se me quisesse expulsar. Retiro um par de comprimidos do bolso - calmantes - os engulo em seco e pouso minha cabeça sobre o braço esperando o sonho:
- Daniel! Daniel! Acorde e me encare...
Mesmo com a dose maciça de calmantes ingerida despertei rapidamente e vi quem me chamava. Ela, Helena, a mulher que eu abandonei à propria sorte quando estive nesse mau lugar pela primeira vez. A única que eu amei de verdade e aquela que deu sua vida pela minha:
- Helena! Não peço que acredite em mim, muito menos que me perdoe. Vim aqui porque precisava lhe encarar uma vez mais, olhar dentro de teus olhos e te dizer tantas coisas que não o foram quando estávamos juntos. Há tanto que te dizer, mas não sei sequer por onde começar. Só consigo lhe dizer que te amei mais do que tudo.
- E tu, meu Daniel, saiba que és amado por mim ainda aqui em meu lar eterno, não há mágoa pelo que aconteceu e te peço apenas que permaeças aqui comigo para que sejamos um só por toda a eternidade. Essa casa nos proverá sustento e felicidade; veja que até a minha beleza permanece.
Realmente Helena se mostrava tão bela quanto no dia em que nos encontramos pela primeira vez. Sua roupa era alva como um nuvem e seu cabelo esvoaçava com uma vida impressionante. Mas eu ali estava por um motivo e havia de cumprir minha promessa:
- Infelizmente amada minha, é impossível que eu me junte a ti nessa prisão eterna. Vim aqui encarar-te e te dizer com pesar que não mais voltarei aqui, que viverei minha vida afastado de tua oresença e apenas com a lembrança de nossos tempos idos na memória.
- Por quê??? Por que abandonas nosso passado lindo e me deixas aqui a passar por esse martírio? Por quê maldito? Por quê?
Suas roupas então perdem o branco e seu rosto alvo literalmente se liquefaz, deixando à mostra traços de mandíbula e no lugar de seus olho amendoados apenas dois buracos negros e opacos. Em pânico, corro em direção à saída, com a sensação de que serei em breve consumido pela maldita costrução que treme sob meus pés.
Ao chegar finalmente à porta de saída, olho para trás e vejo Helena; uma forma grotesca e assuatadoramente puída a me olhar, vazia e sem vida. Porém leio claramente a pergunta em sua expressão: Por quê?
Atônito e sem conseguir expressar palavra, jogo o papel couchè que trazia no bolso para que Helena entenda. Um grito altíssimo de dor e ódio brota daquele ser ao terminar de ler o meu convite de casamento. Percebo que a porta está trancada; tento arrombá-la mas é como se forçasse os portões do próprio Hades. Sinto um gélido toque em meu ombro e me viro desesperado, atravessando aquele ser e me atirando pela janela, porém percebo tarde demais que a casa havia uma vez mais se transformado e eu caía do último andar. Ao me chocar com o chão, antes da dor, ouço apenas um riso e uma voz cadavérica a me dizer: "Bem vindo".

segunda-feira, julho 26, 2004

Surprise, surprise, surprise!


As vezes, quando a gente acha que não consegue fazer mais nada, a Musa surge através de outra pessoa! Aqui no caso um companheiro de pena que de tanto me "encher" os pacovás me fez produzir (junto com ele, é claro!!!) esse conto aí embaixo!
Espero que apreciem e se não apreciarem tambem, contentem-se com isso! Ou não!

P.s. Eu ainda volto, ah... volto!


O Afogar de uma Vida Miserável

Com a valiosíssima contribuição de Saxplr


Passava da meia noite quando Marcos entrara. Era Terça-feira, o bar encontrava-se deserto a não ser pelos dois velhos em sua habitual cachaça e pelo Barman, que mal tirava os olhos do pequeno televisor de cores distorcidas. Após pedir uma cerveja, procurou uma mesa afastada da janela para beber, não queria que o vissem ali, ele, um pai de família de sucesso no emprego, acionista de uma das maiores empresas de eletrodomésticos do país, dono de uma vida social invejável, e família adorável.

-Senta aí, que eu quero conversar. Eu preciso desabafar com alguém, uma vida inteira é tempo demais para se carregar um fardo como o meu. - disse, enchendo os dois copos.

-Sabe, eu me lembro quando eu era moleque. Brincava de pega, de esconder, subia em árvore, roubava manga. Fazia de tudo o que essa molecada de hoje despreza, pois nem ao menos sabe que gosto tem.

Após beber mais um gole de cerveja gelada, fez como se tivesse acabado de lembrar-se de algo e prontificou-se a corrigir o desrespeito:

-Me desculpe, na minha ânsia por falar, esqueci de me apresentar. Meu nome é Marcos Almeida, Almeida na empresa, aqui ficaremos por Marcos mesmo. Sou casado com uma linda mulher chamada Anita, tenho dois filhos: Um garoto de quinze, Marcelo, e uma menina de doze Mariana.

-Sei que não é prudente expor-me tanto, ainda mais em um lugar como esse, mas é que estou prestes a lhe contar coisas tão mais importantes e profundas que te presentearia com uma arma, anexada ao endereço de minha residência, e não me surpreenderia ao lhe ver com a pistola apontada para mim um dia desses.

Encheu novamente o copo. Suspirou algumas vezes, saboreando a bebida amarela que descia suave em sua garganta, lembrando-se de remotos tempos.

-Me bateu uma saudade dos tempos de faculdade... A gente matava aula para ficar em um bar como esse, jogando sinuca e conversando até altas horas. Quantas vezes não tivemos que carregar um de nós até a república, e quantas vezes a pessoa carregada não era eu mesmo. Interessante é que me lembro bem somente do primeiro e do último porre! O primeiro por motivos óbvios, e o segundo porque foi por causa dele que conheci Lucinha...

-Ah, Lucinha, não era um primor de beleza, mas tinha seus atrativos! E o maior deles era a humildade, apenas rivalizada por seu desprendimento. Lucinha não se importava com quase nada do mundano, era doce, ao contrário de sua prima rica, A. Marly.

-Marly era linda, toda metida à gostosona, sabia conseguir o que queria, não media esforços para o que desejasse. Na verdade toda sua ânsia se resumia-se em uma palavra: Poder.

-Mais uma aqui! Você quer? Sinta-se à vontade, deixe-me encher seu copo!

-Vivi numa encruzilhada com essas duas moças sem conseguir me decidir por quase dois anos. Lucinha me proporcionava paz e alegria, mas sua falta de ambição me entediava, e aquele negócio de paz, amor e pobreza me irritava por vezes. Já Marly tinha tudo o que um homem jovem poderia querer: Dinheiro, curtição e sexo fácil. E olha que além de fácil ela sabia mesmo como enlouquecer um homem direitinho. Claro que era desejada por quase todos, mas poucos é que realmente a levavam para cama. Enquanto com Lucinha podia me sentir uma criança, Marly me fazia homem.

-Por falar em criança, deixe-me falar da minha infância, Antes disso, deixe-me pedir algo um pouco mais forte pra gente.

-Tequila aqui, rapaz. E deixa a garrafa.

-Passei muita necessidade e não tive sequer um brinquedo decente, não sabe o desespero que era estar com fome de tarde e não ter nada na despensa. A fome e a falta de grana eram constantes e só a muito custo consegui ingressar na faculdade, não imagina a festa que foi lá em casa. Diga-se de passagem, fui o quinto colocado geral do curso de Contábeis! Mas minha infância não foi tão ruim quanto quero fazer parecer, tinha uns moleques na rua, a gente jogava muita bola, quebrava janela do vizinho, roubava manga, fugia de cachorro. Bons tempos aqueles... As vezes fico a pensar com o que aconteceu à cada um deles.

-Mas voltando ao fim da faculdade... Um dia fui posto na parede por Marly. A gente tinha acabado de transar, ela estava com uma lingerie vermelha. Cara, eu ficava louco quando ela vestia aquela. Virou séria para mim e disse assim, na lata.

-"Ou você escolhe uma, ou eu te largo agora! E lembre-se que eu tenho muito mais a oferecer do que a sonsa da Lucinha! Acorda! Vai querer ficar com aquela lerda ou comigo?"

-Ela disse isso alisando seu corpo sensual, e aí não teve jeito mesmo. Na hora eu disse que era com ela que eu ia ficar. Mas não posso dizer que foi ali que eu tomei minha decisão, dizer que foi chantagem seria conformismo.

-Garçom, essa garrafa não deu nem pro cheiro, me traz mais uma aqui! E você, precisa beber mais, já disse que a noite é por minha conta. Ahn, não disse? Pois agora disse. Então enche logo esse copo e brinde comigo à minha desgraça.

-Eu estava terminando a faculdade, precisava de um estágio, se ficasse com a Anita teria tudo isso fácil, assim de bandeja, e ainda levava a mulher de brinde! Ahn!?, Anita, sim, é esse o primeiro nome da Marly. Não posso dizer que fiquei péssimo quando terminei tudo definitivamente com Lucinha, mas sentido eu fiquei sim, menos por mim que por ela. Coitada, eu nem para inventar um motivo melhor, dei qualquer desculpa à ela.

-Me traz um Black Label aqui! Você gosta de whisky? Ah, claro que gosta, aprecie comigo essa maravilha aqui! Na verdade eu preferia um Gold, mas não se encontra nesses botecos por aqui.

-Vivi cheio da grana por muitos anos, na verdade ainda vivo. Mas hoje, cara, em frente a todo esse álcool eu vejo a cagada que é minha vida. Minha mulher me trai com alguns colegas da empresa, e até pros empregados da casa ela já deu. Se eu quiser pegar ela na cama com outro é fácil; é só sair mais cedo do trabalho. Mas não sei nem se eu quero isso, ela que vá pra cama com quem quiser, aquela vagabunda me encheu de grana, e é isso que importa. Meu filho é drogado e a menina segue pelo mesmo caminho da vagabunda da mãe dela. Os acionistas me odeiam, só continuo na firma por ser casado com aquela mulher, filha do dono da empresa.

-Sabe, eu sempre tive vontade de voltar atrás, ou ao menos tentar mudar tudo. Ir atrás de Lucinha; ela sim era a mulher da minha vida, levei anos para descobrir isso. Mas me faltava coragem. Coragem de encarar a realidade, pois ela provavelmente estaria casada e feliz, morando em uma casinha modesta com um marido que a amasse. Fiquei sabendo que ela morreu hoje, foi morta a tiros pelo marido ciumento. Eu vi a foto do cara, ela namorava com o cara desde a época que ainda estudávamos juntos, começaram logo depois que terminei com ela. O cara sempre foi um filho da puta! Umas amigas dela me disseram que ela começou a sair com ele por estar muito abalada por minha causa... Sabe o que significa isso? Eu fodi a minha vida, fodi a vida dela... Cara, eu que fiz toda a merda.

-Ahn, não olha com essa cara de reprovação não, que você não deve ser nem metade do que diz que é. Fica aí, lendo essas palavras, e não faz nada para mudar essa bosta na qual você vive. Eu posso falar o que quiser que você não tem como me atingir, mas EU tenho. Me diz aí, qual foi a última coisa de boa que você fez, qual foi seu último movimento para mudar essa droga de mudo no qual você está inserido?

-Eu sabia, você não é nem um pouco melhor que eu...

segunda-feira, julho 12, 2004

Aloou? Tem alguém aí???


Será que eu ainda lembro como esse negócio funciona? Sinceramente meu cérebro tem se mostrado pouco mais do que um emaranhado de conexões tão fundidas que às vezes eu acho q a minha mãe fumou alguma coisa estranha na gravidez. Mas whatever. Bola pra fernte e ´bora ressuscitar o velho bolologue! Sem promessa de ataulização, mas pelo menos a vontade existe e principalmente a de voltar ao motivo pelo qual eu iniciei essa birosca! Esvaziar o meu amedrontador buffer cerebral. Então, fasten ypur seatbelts e aguardem!!!
Ou não...

quinta-feira, maio 27, 2004

Torn

Trabalho, estudos, televisão, comida, sono, sonho, trabalho... Um círculo vicioso que resume quase totalmente minha vida medíocre. Busco respostas, motivação ou mesmo uma necessidade qualquer que possa me trazer mais sentido aos meus atos. Uma busca qualquer ou mesmo uma aventura; mas nada, absolutamente nada, acontece de novo. Apenas o tédio interminável e o vazio sem sentido. Mas chega de conjecturar e vambora pro trabalho!
Carro enquiçado, ônibus lotado, todos com caras sérias(como deve ser); uma garotinha chora por não querer ir à escola, uma senhora reclama porque um boy não lhe dá lugar, o cobrador grita a plenos pulmões para que nos aglomeremos mais no fundo do coletivo e o motorista assovia uma canção velha que me lembra meus avós. Tudo absurdamente normal; mas uma freada brusca muda tudo. Barulho de ferro retorcido, gritos, cheiro de queimado, sirenes, inconsciência.
Ainda me lembro da sensação de acordar ante à luz pálida do quarto de parede azul do hospital. Lembro-me do torpor na visão, assim como me lembro dela... Cabelos totalmente brancos e longos como o infinito, olhos negros como a noite sem lua e um sorriso tão jovem quanto a aparência do seu rosto:
- Olá, eu sou Clara. Você dormiu por dois bons dias, mas está tudo bem! É um milagra você sair ileso!
- Dois dias? Pra um insone isso até que é um belo recorde. Como estão os outros passageiros?
- Sobraram apenas você e uma memnina de nome Nadine! Alías, você deve conhecê-la, afinal foi você quem a salvou, protegendo-a com seu corpo.
- Desculpe,ma snão me lembro de nada e nem sequer conheço essa jovem.
- Vou trazê-la para ser sua companheira de quarto, ela não tem mais ninguém no mundo e precisa de amigos.
Com a saída de Clara adormeci mas algumas horas e acordei com uma mãozinha puxando meu lençol:
- 'Brigado Tio! A Tia Clara disse que eu só tou andando por tua causa. Você quer ser meu pai? A Tia Clara pode ser a minha mãe...
Clara ouviu tudo da porta e escondeu-me o rosto, mas confesso que a sinceridade daquela linda jovenzinha de olhos negros me encantava.
Os dias passavam lentos e as sessões de fisioterapia incomodavam, mas tanto Nadine quanto Clara davam-me incentivo a vencer a dor e voltar a andar. Ainda assim não conseguia mover um músculo abaixo da cintura por mais que tentasse. Mas tudo mudaria em uma única noite.
Clara, ao dar-me o tradicional selinho de boa noite sussurrou um "volto depois" que mexia com a imaginação. Dito e feito, na madrugada, enquanto Nadine dormia ela regressou e me disse, insinuante:
- Você sabe o que eu quero... O que você quer?
- O mesmo que você, mas você conhece o meu "problema"...
- Posso resolver isso, mas tem um preço.
- Qualquer coisa para andar de novo e ter você! Qualquer coisa!
- Então apenas feche os olhos...
Não me lembro de mais nada, apenas de que no outro dia minha saúde agia como se eu tivesse dezoito anos de novo! Lembro-me até hoje da disposição, assim como da sede! uma sede estranha e insaciável!
Demorei muito a perceber o que era a sede, e a explicação de Clara apenas apvorou-me ainda mais:
- Você se dispôs a pagar o preço, agora faça o que lhe aprouver.
E dizendo isso, bateu a porta. Eu sabia que não a veria mais, o que me deixava mais em pânico.
Perdido, com medo de magoar Nadine e sem esperanças de salvação fiz o que me pareceu mais plausível. Atirei-me pela janela.
- Por que você pulou da janela? Assim você pode se machucar tio!
- Minha pequena princesa! Seja feliz e nunca, jamais, desperdice tua vida como eu desperdicei a minha...
E juntando minhas últimas forças deixo a sombra das árvores e corro em direção ao Sol que começa a nascer, queimando meu corpo e levando embora uma vida que sequer existiu...

segunda-feira, maio 24, 2004

Lá e de volta outra vez!


Não dá pra entender, não tem como mensurar, assim como não dá pra descever absolutamente nada. O fato é que dói! E como dói! Dói como nunca doeu antes. É físico! E uma sensação de impotência que me faz ter vontade de desistir de tudo e fazer com que o mundo finalmente receba o pedaço de mim que ele tanto cobra. Sinceramente eu ainda não desisti de lutar ou de buscar respostas; mas já me considero conformado com a perda e sei que a teimosia triunfará sobre o sentimento e as coisas seguirão o péssimo e incontrolável rumo da indiferença. Se estiveres lendo, saiba que já percebo isso de tua parte. Então. Que seja feita a vossa vontade. Aidna não secou, ainda nçao parou de doer! Mas se querias me convencer de que era sincero, conseguiu! Meu sentimento não mudou, assim como minhas promessas estão mantidas, pelo tempo que elas conseguirem aguentar! Segue teu caminho, sê feliz e quando olhares pra trás ainda verá smeu rosto, mesmo que seja apenas em tuas doces (ou não) lembranças...

Tristeza não tem fim / Felicidade sim
Am7 Em7 Am7 D7/9 Am7
Tristeza não tem fim / Felicidade sim

C7+ Bm7/-5 E7/-9 Am7 Am6 Gm7 C7
A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar
F7+ Fm6 Am7 D7/9
Voa tão leve mas tem a vida breve
Am7 D7/9 Am7
Precisa que haja vento sem parar

C7+ Gm7 C7/9 F7+
A felicidade do pobre parece / A grande ilusão do carnaval
Dm7 G7 C7+
A gente trabalha o ano inteiro
Gbm7/-5 B7/-9 Em7
Por um momento de sonho pra fazer
Dº Am7 D7/9
A fantasia de rei ou de pirata ou jardineira
Am7 D7/9 Am7
Pra tudo se acabar na quarta feira

C7+ Bm7/-5 E7/-9 Am7 Am6 Gm7 C7
A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor
F7+ Fm6 Am7 D7/9
Brilha tranquila / Depois de leve oscila
Am7 D7/9 Am7
E cai com uma lágrima de amor

C7+
A minha felicidade está sonhando
Gm7 C7/9 F7+
Nos olhos da minha namorada
Dm7 G7/13 C7+
É como esta noite passando, passando
Gbm7/-5 B7/-9 Em7 Dº
Em busca da madrugada / Falem baixo, por favor
Am7 D7/9
Pra que ela acorde alegre como o dia
Am7 D7/9 Am7 D7/9 Am7 G7/13 C7+/9
Oferecendo beijos de amor / Tristeza não tem fim

terça-feira, abril 06, 2004

Um pouco de ficção... Ou não!


Por muitas vezes busco remédio nas palavras, eternas companheiras, e mesmo elas às vezes tendem a desaparecer e deixar-me ainda mais triste. Sinto-me como um analfabeto, incapaz de concatenar os pensamentos que reverberam em minha mente como uma desafinada orquestra de metais. Não encontro definições, as idéias não se entrelaçam e nada, absloutamente nada tem sentido.
Em dias como esses, resta-me apenas fechar o olhos, deixar que o estranhos leprechauns que habitam minha mente saiam e sirvam de alimento aos crocodilos do sótão de minha mente. Resta-me apenas vagar inerte e me fingir de morto, como que em um estado cataléptico aguardando o momento de despertar para a vida.
Momentos vividos sob a luz desse estado, costumam ser doídos e traumatizantes, assim como a tendência a ferir e magoar acentua-se. Ninguém, mesmo os mais amados escapam incólumes de mes dias de "rebelião mental". É claro que quem mais sofre com isso sou eu, ao ver os que quero bem fugindo de minha presença por não suportar meu latente mau humor.
Hoje sei porque não tenho futuro em minha profissão e sei que nem a mais horrenda de todas as elfas pode vir a interessar-se por um bardo temperamental como eu. Meu alaúde, jogado em um canto de minha casa, não produz nada agradável, pelo menos por enquanto. E não há sequer uma moeda em minha bolsa para matar minha sede.
Devo entregar-me à solidão enquanto minha mente se reestabelece e aguardar, para que, tão logo me refaça, possa voltar a alegar a todos os que me conhecem com minhas palavras e canções.

terça-feira, março 23, 2004

Ok, ok, I quit!

Sim crianças, nem só de histórias deve viver um homem, apesar de as mesmas serem uma parte muito importante de minha vida. Porém, entre abandonar o blog por falta de tempo e criatividade, ou preencher esse espaço com o que eu chamaria de "requisitos para um blog "normal""; a segunda opção é suficientemente pluasível. É claro que evitarei o que sempre condenei, mas passo agora acolocar aqui, além de histórias do "além", impressões minhas sobre essa louca viagem da vida, além de alguns detalhes pessoais!

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

As quatro estações - Outono


Sol, Fá, Sib, Fá, Ré, Dó, Fá Ré, Sib, Sol. Dez notas, quatro compassos. O maior momento da minha vida. O solo inicial da primeira Promenade dos "Quadros" de Mussorgsky. Logo após ascender ao posto de primeiro trompetista, não consigo controlar a ansiedade que toma conta de mim. Nada é tão importante quanto essa apresentação! A tradicional meia hora diária foi substituída por mais de três horas de estudo por dia; pois além de tudo havia o agravante de ser o retorno de nosso antigo Maestro. O mesmo que me acolhera como trompetista reserva, quando eu nem conseguia sequer distinguir um compasso simples de um composto.
Lembro-me com carinho das lições transmitidas tão sabiamente por aquele homem de alma amável e paciência inacreditável. Todos os meus erros eram sucedidos por olhares fortes, num misto de reprovação e incentivo, sendo esse último grande o suficiente para me fazer tentar com mais afinco e me dedicar com mais paixão.
Da mesma forma me recordo da saída de meu mestre, de seu envolvimento com aquela mulher vil, que tantas vezes causara a discérdia na orquestra. Meu coração ainda se lembra do olhar de tristeza de meu mentor em seu concerto de despedida.
Mas agora é diferente. Ele voltou, e melhor ainda, colocou-me em um posto em que eu possa der-lhe orgulho. Nada há de atrapalhar esse dia. O teatro lotado, as pessoas em polvorosa, tudo afinado, perfeito. E Ele surge, ovacionado! Levanta seus braços, me fazendo sentir a vibração, me pisca um olho maroto e dá a entrada!
Sol, Fá, Sib, Fá, Ré, Dó, Fá Ré, Sib, Sol. Perfeito! Mal consigo conter a emoção ao ver meu mestre chorar, mas me recomponho e sigo em frente. A Promenade termina; entra "O Gnomo", sem maiores problemas. Segunda Promenade, melhor ainda que a primeira; no "Velho Castelo" tudo corre bem; o solo de saxofone segue maravilhoso quando um barulho estranho interrompe tudo. Caos instaurado e o Maestro ao chão. Uma apresentação interrompida, um homem morto e eu, um reles trompetista, choro sobre seu corpo; com a promessa de nunca mais entoar essas dez notas novamente...

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

As quatro estações - Inverno


Sobre esse palco, juntamente com a melhor Sinfônica de todos os tempos, apresentam-se os os consagrados clássicos da música erudita. O maestro, sentia um prazer incomensurável ao perceber em seus "comandados" a algria de uma suíte bem feita, de um movimento bem tocado, ou mesmo de um solo perfeito.
A rivalidade, tão comum, inexistia. Apenas a música movia os corações e nada podia tornar isso diferente. Até a chegada da nova spalla.
Ao divisar seu rosto pela primeira vez, ele foi acometido de um estranho sentimento; que mais tarde descobriu ser amor. Um amor doentio e sem medidas que o fez esquecer o que importava. Que matou em seu coração as sensações antes tão importantes. Nada mais importava além da companhia da amada. Embriagado de amor, deixou a Orquestra e foi dedicar-me somente a ela.
Levava uma vida tranquila, ao menos no começo, mas com o tempo percebeu mudanças bruscas de atitude, ornamentadas por violentos acessos de ciúme; o ápice de seu desespero se deu ao descobrir que era traído. Não haviam forças para continuar vivendo, nada mais podia salvá-lo. Nada além da música.
Seu retorno foi aclamado por todos, público e crítica. Esperavam sua primeira apresentação com uma ansiedade sobrenatural. Tudo estava acertado; e o grande dia chegou.
Modest Mussorgsky - Quadros para uma exposição. Sua peça favorita desde os tempos em que mal conhecia regência.Todos os movimentos tocados à perfeição; o solo inicial da primeira Promenade levou-o às lágrimas. Tudo corria como devia ser; até que se ouviu um barulho, seco; e um corpo tombou no palco. O socorro chegou tarde demais, podendo apenas confirmar o óbvio. O Maestro foi sepultado com toda a pompa devida, ao som da ària para a corda Sol de Bach:
- Nossa pai, me trazer pra conhecer o Teatro antes da demolição tudo bem, mas por que me contar uma história dessas?
- Porque dizem que se você fechar o os olhos e se concentrar, você vai ouvir algo. Tente!
- Estou ouvindo algo pai! Parece alguém chorando! É o Maestro?
- Ninguém sabe meu garoto... Ninguém sabe!

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

Terra de ninguém


E torno a andar pela tortuosa e estreita estrada das palavras. Ao meu lado, um abismo sem fundo; no qual posso cair ao menor passo em falso. Sinceramente, deixei de temer as palavras e suas consequências. Hoje trato-as como companheiras de um processo simbiótico; dou a elas a liberdade que tanto anseiam e em troca tenho minhas emoções estabilizadas e postas em um estado de segura anestesia.
MIsteriosamente reencontro prazer em coisas pequeninas e pueris, como a boa e velha chuva. Sorrisos brotam de meu rosto como mato cresce nas plantações. É inexplicável a alegria que sinto em meu corpo, assim como infundado é meu temor das pessoas. Elas não mais podem me ferir ou sequer tomar o que é meu. Não vivo mais; não mais sou visto; e nunca imaginei que isso tdo pudesse ser tão bom...

terça-feira, dezembro 16, 2003

Claire de Lune


Enquanto a chuva desaba torrencialmente lá fora, fico a repassar mentalmente todos os projetos estabelecidos e não cumpridos. Todas as amarguras vividas, os amores passados e oportunidades perdidas. Um estranho sorriso brota de meus lábios. Não há explicação para o mesmo, haja visto minha doença terminal e o tempo chuvoso que agrava ainda mais as dores em minhas costas.
A televisão, minha única distração, não me traz nada além de futilidades e me oferece um estilo de vida incompatível com a minha idade e mais ainda, minha mentalidade. O violão está abandonado por que meus dedos não têm força sequer para um dó maior. A mim só resta contentar-me com a dificultosa leitura e com a visita esporádica de meu filho. Aliás, acredito que hei de vê-lo hoje.
A chuva aumenta e ri de mim ao bater de encontro à minha janela. "Egoísta"; ela diz. Zomba da disparidade entre meu combalido corpo e minha lúcida mente.
Volto a relembrar meu passado e procuro visualizar onde errei. Percebo que, ao contrário do que dizem, o abandono sofrido não foi nada mais do que consequência natural de meu comportamento. Restou-me apenas meu próprio ego e a minha inimiga, que teima em rir de mim a não poder.
Retorno à televisão. Uma vagabunda qualquer rebola para conseguir alguns aplausos. Um jovem, com trajes estranhos divulga seu romance "escrito com os culhões". Uma criança me diz para não esquecer de comprar sabonete. Um soldado morre dizendo que nunca esqueceria o seu amado. Não aguento a tortura e desligo o aparelho, estilhaçando em seguida o controle remoto à parede. Tento me levantar, caio e sinto o chão frio esfarelar alguns de meus ossos. Tento chamar pelo enfermeiro, mas não alcanço o botão. Pressinto o fim chegando e a tal paz que o Pastor me disse não vem. em meu último fragmento de consciência diviso a fragilidade da vida e compreendo que é melhor mesmo encerrar minha passagem por aqui mesmo...

segunda-feira, novembro 17, 2003

Help me to build - Final


Voltava da escola, mãos dadas com Nadine, quando avistei fumaça vinda de minha casa! Corri, como minhas pernas permitiam, mas não a tempo de evitar o desastre. Uma vez mais mue santuário era queimado e uma vez mais as lágrimas me impediam de agir. Nadine chegou-se a mim, abraçando-me e me dizendo que podíamos fazer tudo de novo, só que agora juntos. Mas ela não entendia minha dor, nem meu segredo:
- Não, Nadine, nada pode ser feito. Não enquanto aqueles malditos empestearem o ar por onde passam com suas vidinhas patéticas. Eu vou me vingar e nada vai me impedir! NADA!!!!
- Max, acalme-se! Isso não leva a lugar nenhum, você bem sabe.
- Se você não me apóia, você está contra mim! SUMA!
- Mas...
- Sem mas!!! DE-SA-PA-RE-ÇA!!!
E às lágrimas ela me abandonou, muito mais por medo do que pelo ódio que eu julagava que ela sentisse. Só então percebi que meu anel brilhava mais do que o comum. Mas, tomado pelo ódio e pela obstinação, fui ao "Clube", onde meu rival reunia seus amigos para beber e fumar às escondidas. Não havia em mim qualquer traço de humanidade; eu era uma besta ensandecida:
- Saia agora daí, seu animal! Você vai pagar pelo que fez!
- Qualé, manezão. Só porque eu queimei a sua casinha gay você vai estressar? Constrói de novo, que eu vou lá e queimo.
Apliquei-lhe um direto de direita tão forte que dois incisivos voaram em pleno ar. Quando ele caiu, chutei-o muitas e muitas vezes; sentindo minha mão queimar conforme a sede de sangue aumentava. Eu podia matá-lo, eu queria matá-lo e assim eu o faria se uma doce voz não me impedisse:
- Max! Pare! Você já provou o que queria, venha comigo e esqueça esse maldito.
Reconstituído de minhas faculdades mentais divisei que Nadine estava certa e que aquilo não valia a pena. Beijei-a longamente e, de mãos dadas, voltamos à minha casa.
Chegndo lá, qual não foi meu espanto ao meu meu castelo inteiro, como se nada houvesse acontecido, olhei atônito para Nadine e então entendi:
- Era você?
- Sim meu amor. Eu lhe dei o anel para selar nossa união. Agora venha comigo para dentro e deixemos esse maldito mundo para trás.
Entramos e eu pude ouvir a porta batendo atrás de mim para nunca mais se abrir. Enquanto íamos ao nosso quarto, eu via e sentia as chamas consumirem as paredes mais uma vez. Mas nada disso importava agora, pois eu seria feliz, e para sempre.
Help me to build - Part II


O verbo dito por aquela jovem ecoava em minha mente como os acordes poderosos de uma melodia hipnótica. Inconsolado com as pessoas e abandonado por todos os raros amigos à solidão; resolvi investir tudo em meu castelo. Faltava aulas, não comia, dormia apenas quando o corpo não mais aguentava o cansaço. Em pouco menos de um mês tinha em meu sntuário com o dobro do tamanho e muito mais bonito do que quando ele fora reconstruído daquela forma estranha.
Tudo estava perfeito e a felicidade ameaçava instalar-se novamente em meu coração. Chegava de mansinho buscando um lugar e, num dia de sol enquanto eu trabalhava, ela tomou forma:
- Olá! É um belo trabalho esse que você está fazendo. Alguém na tua idade dificilmente conseguiria fazer o que você faz.
Virei-me e jamais esquecerei o que minhas retinas registraram. Ela era linda, tinha os cabelos totalmente brancos e olhos de um negrum einacreditável. Seu sorriso encantador demonstrava que seu elogio era verdadeiro:
- Assim eu fico sem jeito, nunca elogiaram meu trabalho. Quer conhecer o itnerior? A propoósito, me chamo Max.
- Nadine. E seria um prazer conhecer tão bela obra.
Caminhamos pelos corredores criados por minhas próprias mãos e fui apresentando e contando cada segredo escondido nos cômodos. Nadine retornava todos os dias ao castelo e líamos, ríamos ou simplesmente éramos felizes. A companheira que meu lar tanto esperara havia chegado.
À insistência de meu amor, voltei a ter vida social. Frequentar a escola e outras inutilidades do gênero. Uma vez mais eu era incomodado pelos valentões. Agora mais ainda, pois a presença de Nadine ao meu lado chamava muito a atenção de meusupostos inimigos. Fazia-me de superior e não dava a mínima. Até agora.